Yuli Anastassakis (1977) Nasci em Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, Brasil. Vivo e trabalho em Lisboa, Portugal. Como artista visual, desenvolvo trabalhos em bordado, desenho, colagem e pintura. Nos últimos anos venho desenvolvendo pesquisas em bordado, explorando a relação entre entre arquivos, plantas, palavras, tempo e memória. Minha pesquisa de trabalho desdobra-se a partir das seguintes questões: _ O bordado como uma maneira de guardar memórias: captura e arquivamento das coisas do mundo. Estabeleço uma costura reflexiva entre plantas, narrativas, internet e bordado buscando capturar um dado momento histórico a partir da percepção e dos discursos de pessoas comuns. Esse arquivo parte do desejo de tentar juntar e guardar o que está sendo escrito, sentido ou percebido sobre o momento atual. A vontade de arquivar, de guardar, surge do medo do esquecimento. Coleciono memórias para depois poder rever, relembrar, rememorar. Rememorar para resistir ao esquecimento e à ação do tempo. Bordar como uma forma de guardar memórias. Rememorar para poder imaginar o que virá. Imaginar mundos. Utilizo o bordado como uma tentativa de guardar sensações, observações, sentimentos, imagens e momentos. Guardar aquilo que me afeta. Afeto vem do latim affectus, que significa tocar, comover o espírito e, por extensão, unir, fixar, significa disposição de alma, sentimento, aquilo que age sobre um ser. Bordar afetos._ O tempo do bordado e das plantas: outras maneiras de experienciar o tempo. Pensar as plantas como um modo de refletir e agir, um modo de ser e estar no mundo. Pensar em como as plantas se comunicam, se apoiam, resistem e se espalham. Plantas como exemplos de maneiras de comunicação e cooperação. As relações entre plantas, pessoas e suas crenças. Plantas de poder. Plantas de proteção. plantas mágicas. Bordando, diminuo a velocidade, resistindo à quantidade de imagens e palavras produzidas cotidianamente, indo no caminho inverso da avalanche de acontecimentos e noticias que nos chegam a todo instante. Este ato vem de um desejo de desacelerar a vida e ter tempo para ver as coisas com atenção. Enquanto bordo, tenho tempo para refletir sobre o que me levou a bordar, sobre o que estou bordando, posso mudar de ideia no meio do caminho, desfazer, repensar e refazer. Vivendo em um mundo acelerado, em que estamos sempre correndo atrás de prazos e datas, como trabalhar com algo que demanda tanto tempo para ser feito? O bordado possibilita outra relação com o tempo, onde posso reconstruir uma imagem ou reescrever uma palavra de forma extremamente lenta, buscando criar mais tempo dentro do tempo. Tento, de alguma forma, frear o tempo, na tentativa de usar a tecnologia, a imagem, a palavra, o trabalho e as relações de outra maneira.